Numa cidade tomada por população de descendência europeia, a chegada de uma professora negra foi provavelmente um choque. Mas aquela mulher se tornaria um símbolo da vitória sobre o preconceito no Paraná e no Brasil. Embarque comigo nesta história!
No início da década de 30, São Mateus do Sul tinha 15 escolas mistas, estabelecimentos de ensino simples, que davam uma educação muito básica (às vezes até sofrível) para os filhos dos moradores. Os professores eram muitas vezes voluntários ou donas de casa, pessoas sem formação adequada. A grande exceção em termos de estrutura era o Grupo Escolar São Matheus (atual Colégio São Mateus), que funcionava no lindo prédio no Paço Municipal (sim, esse mesmo prédio que a prefeitura pretende derrubar) e atendia 200 alunos. Mas mesmo o Grupo Escolar tinha dificuldades para conseguir professores capacitados. Quando a escola completou 10 anos, em 1932, a Diretora Henriqueta Valente fez um grande esforço junto ao governo do estado para que a escola recebesse uma normalista recém-formada. E o governo atendeu ao pedido, enviando a professora Enedina Alves Marques.
Enedina era filha de uma lavadeira e de um pai ausente. Tinha se formado há apenas um ano e passado rapidamente por uma escola em Rio Negro, mas agora, com 19 anos, era destinada a São Mateus. E a comunidade ficou surpresa: a professora era negra!!! Numa cidade cujos professores tinham sobrenomes Zbisławieski, Radecki, Wypych, Stanczyk, entre outros, a professora de pele escura contrastava com os rostos esbranquiçados de poloneses e alemães. Mas Enedina, apesar do visual dócil e frágil, sabia ser enérgica e não deixou espaço para qualquer tipo de preconceito. Era uma excelente professora, mas afirmava que seu sonho era se formar em Engenharia Civil. Mesmo quando os colegas falavam que essa era uma profissão de homens, e que ela devia se contentar em ser “uma professorinha”, Enedina ignorava e seguia em frente.
Após trabalhar em São Mateus acabou voltando para Curitiba de forma a cursar Engenharia. Trabalhou como empregada doméstica para pagar a faculdade. Concluiu o ensino superior em 1945, sendo a primeira mulher negra no Brasil a se formar em Engenharia e primeira mulher a ter essa graduação no estado do Paraná. Comandou projetos importantes como a construção da Usina Capivari-Cachoeira. Durante as obras, se algum homem se negava a seguir as ordens de uma mulher negra, Enedina puxava a arma que trazia na cintura e dava tiros para o alto, convertendo rapidamente o rebelde em um dócil trabalhador.
Durante toda a vida, Enedina foi referência por sua competência técnica como engenheira civil do governo do estado, tendo inclusive representado o Paraná em diversas missões no exterior. Quando ela se aposentou, o governador Ney Braga concedeu-lhe vencimentos equivalentes ao salário de juiz, tamanho o reconhecimento que o estado tinha para com ela. Faleceu aos 68 anos, vítima de ataque cardíaco. Enedina foi homenageada com nome de rua e com um “Memorial à Mulher”, na praça do Soroptismismo em Curitiba.
A foto que ilustra esta coluna mostra professores e alunos em frente ao prédio do Grupo Escolar São Matheus, em 1932. Enedina pode ser vista em pé, atrás do ombro esquerdo do prefeito Bernardo do Amaral Wolff, ex-diretor da escola. E por falar em “prédio”, a casa em que Enedina morou por alguns anos, em Curitiba, virou sede do IPHAN – Paraná, mesmo tendo que ser removida do local e recuperada. Já o prédio em que ela lecionou em São Mateus, está nos planos do poder público para ser totalmente demolido. Eu teimo em preferir os que constroem a história, ao invés dos que acham que o antigo é descartável…
Até a próxima semana e céus limpos para todos nós!
Minha: É gostoso quando estou fazendo a Genealogia e encontro conhecidos no tempo. 15 01 2019
Minha: É gostoso quando estou fazendo a Genealogia e encontro conhecidos no tempo. 15 01 2019
Mas aqui as pessoas almoçando ou são do CREA, Engenheiros e famíliares.