Memorias do tempo passado e presente para lição dos vindouros
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Frei Simão de Vasconcellos nascido a 28 de setembro de 1789,fº de José Bernardo Pereira de Vasconcellos e D. Anna Margarida de Almeida Cabral.
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S. ex/ teve a felicidade de se dirigir por sua vez ao sr. Frederico Augusto de Vasconcellos Pereira Cabral, digno sobrinho de Frei Simão de Vasconcellos, que o habilitou com os mais valiosos esclarecimentos, os quaes em seguida passaram ao nosso poder. Posteriormente este mesuK) cavalheiro remetteu-nos obsequiosamente a nota do nascimento de Frei Simão, e além d'isso prometteu-nos enviar quantos mais subsídios nos fossem necessários.
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Assim Frei Simão de Vasconcellos, que havia nascido a 28 de setembro de 1789, entrou na ordem de S. Bernardo, havendo professado no mosteiro de Alcobaça. José Pereira de Vasconcellos abraçou a ordem dos Benedictinos, professando no mosteiro de Refojos de Basto, e falleceu em Lisboa, sendo pregador geral da ordem. Joaquim Maria Pereira de Vasconcellos e Frederico Pinto Pereira de Vasconcellos assentaram ambos praça antes de 1808, aquelle na arma de cavalleria, e este na de infanteria; ambos foram logo reconhecidos cadetes e serviram nas campanhas da guerra peninsular.
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Quaoto a Frei Simão de Vasconcellos, que falle agora o nosso
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«Desde as primeiras conquistas liberaes em 1820, Frei Simão de Vasconcellos manifestou sempre grande sympathia e enthusiasmo pela ideia nova, já procurando piopagal-a, já festejando como podia os dias de regosijo nacional. Para quem se transporta áquella epocha, já afastada, será fácil conceber como era julgado pela má- xima parte da população do camj)0 o frade que assim renegava as crenças politicas da sua classe. Para o maior numero Frei Simão era um pedreiro livre, um apóstata, já excommungado pela egrcja.
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«Elle, naturalmente destemido, era pouco cauteloso, e foi surprehendido pela escolta, em uma madrugada na quinta do Outeiro em Cezár, tendo apenas por uma insnfficiente precaução, pernoitado fora das casas. Só lhe restava o recurso de uma fuga bem precá- ria, que tentou, sendo perseguido pela escolta a tiros, um dos qnaes o alcançou, fraturando-lhe a bala a omoplata esquerda, e sahiudo por baixo da clavicula. O ferimento era de tanta gravidade, que Frei Simão de Vasconcellos confessou-se immediatamente e recebeu os sacramentos, sendo em seguida conduzido numa maca á cadeia da villa da Feira, para onde o seguiu com grande dedicação sua irmã mais velha, com o fim de tractal-o do perigoso ferimento, que teve por final e permanente resultado a limitação dos movimentos do braço esquerdo e a atrophia de parte d'este e da mão. Apesar de coarctados assim os movimentos do braço. Frei Simão de Vasconcellos, pouco mais de um anno, depois de ter sido encarcerado, arrombou de noite a cadeia da villa da Feira, pelo telhado, e evadia-se para ir viver a vida incerta e rodeada de perigos do foragido, até que, entrando no Porto o duque de Bragança com o exercito libertador, alli se apresentou, sendo acolhido como um bravo liberal pelo duque de Bragança que quiz conhecel-o, e pelos seus amigos e da sua familia que seguiam aquella causa. Alli permaneceu algum tempo em casa de seu irmão Frederico Pinto, que como alferes reformado tinha sido convidado a acccitar a commissão de ajudante do batalhão provisório de Sancta Catharina, de que era commandante o coronel de 1.^ linha, José Osório do Amaral, depois barão de Almeidiuha.
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«Ignora-se hoje se a ideia de sahir do Porto com um punhado de homens armados, para fazer uma diversão na rect aguarda do exercito sitiador, partiu de Frei Simão de Vasconcellos, ou se elle foi convidado a encarregar-se d'este arritcado commettimento.
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"O certo é que a Frei Simão de Vasconcellos foi permittido escolher 08 companheiros, que voluntariamente o quizessem acompanhar em tão perigosa tentativa, entre os militares dos corpos de linha e de voluntários do exercito libertador; que dos arsenacs lhe foram ministradas as armas e munições de que precie^ou; que lhe foi facilitada a sabida do Porto; e que numa noite atravessou elle a linha dos sitiantes com os seus 18 ou 20 companheiros.
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"No dia seguinte espalhou se no Porto a noticia da sabida de rrei Simão de Vasconcellos com o íim de revolucionar o paiz na rectaguarda dos sitiadores, e uarrava-se o feito, como dando uma
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«Frei Simào de Vasconcellos dirigiu-se com os seus companheiros a Cezár. A noticia da sua presença naquelle logar prop;igou-se rapidamente, e comoçou logo a perseguição, partindo de Oliveira de Azeméis para alli um forte destacamento de milicias da Feira. Encontrou esta força o pequeno bando liberal, que resistiu, havendo um tiroteio, que conteve as milícias, o que deu logar a que Frei Simào de Vasconcellos podesse retirar-se com os seus companheiros para as montanhas de Arouca. Já alli tinha o capitào-mór reunido as Ordenanças, e com ellns saliiu em perseguição de Frei Simào, que fíicil lhe foi encontrar, e que ainda tentou resistir. Diz-se porém que se lhe acabaram as munições, e que foi acabrunhado pelo numero. D'este recontro sahiu elle ferido. Foi emíini capturado com aquelles dos seus companheiros que nào poderam evadir-se, e levado á villa de Arouca, d'oude foi conduzido para Vizeu. Alli, como se sabe, foi coudi^mnado a ser fuzilado. Ainda existem umas disposições de Frei Simào de Vnsconcellos, e-criptaa por elle, quando já e?tnva no oratório em Vizeu, no dia 16 de outubro de 1832, véspera do dia em que tinha de ser executado. Mostram ellas que elle morreu contrito, ,e procurava remedi:ir faltas que lhe pesavam na consciência. É assim que não estando certo de ter dicto certas missas, pelas quaes já tinha recebido a esmola, pede se mandem dizer, assim como algumas por sua alma.
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"A vida de Frei Simào de Vasconcellos é um triste exemplo das fataes consequências a que pode arrastar uma vocação contrariada. De resto a epocha anormal e de lucta, em que viveu, muito influiu no seu viver aventuroso e de combate, tào contraposto á missão que provavelmente bem a pesar seu tinha primitivamente abraçado.
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«O nome de Frei Simào de Vasconcellos é hoje legendário, sobre tudo nos concelhos da Feira, de Oliveira de Azeméis e de Arouca; c se d'elle são narrados alguns actos menos justificáveis de violência, todos hoje fazem justiça aos seus sentimentos generosos e á sua caridade, de que as suas ultimas disposições sào uma prova evidente.»
