sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Castro Paraná Brasil - nos primórdios da Província do Paraná, em torno de 1853, possuía as seguintes características sociais e econômicas. Primeiro Jardim de Infância do Brasil

 Castro, com 16 quarteirões e 


1088 fogos, (casas)

com população: de 5 899 habitantes, 

dos quais :             3 618 homens

 e:                          2 006 mulheres, 

sendo solteiros:     3 952 

casados:               1 413 

e viúvos                   534. 

Brancos:               3 618, 

mulatos e pardos 1 295, 

pretos                      986, 

dos quais                796 escravos.

 Possuía 510 lavradores, 

145 negociantes, 

16 carpinteiros, 

7 ourives, 

7 sapateiros, 

3 ferreiros, 

2 alfaiates, 

1 seleiro, etc. 

Numerosas fazendas de gado, abundante produção de milho, feijão, arroz, algodão, cana, café, frutas e legumes.



Emília Erichsen, nascida Emília Brasiliana de Faria e Albuquerque[1][2] (Engenho da Piedade17 de novembro de 1817 — Palmeira28 de setembro de 1907)[1][3][4][5] foi uma professora e educadora brasileira.[1][3][4][5] Nasceu na Capitania de Pernambuco, mais precisamente no Engenho da Piedade, hoje município de Jaboatão dos Guararapes, próximo ao Recife, capital do estado.[1][3][4][5] Era uma menina muito esperta e inteligente, aprendeu várias línguas. Teve uma instrução privilegiada, por ser filha de um cirurgião-médico formado na Universidade de Coimbra, que tinha relações de amizade com famílias importantes da época como Andrada e Silva.[3]

Nasceu durante a Revolução Pernambucana.[4] Em 1827, aos dez anos, mudou-se com sua família para Santos. Ali viveu a juventude até os 23 anos, na Rua da Praia, esquina com a Rua do Sal, atualmente ruas Tuiuti e José Ricardo, respectivamente.[3][6][7] Aos 23 anos, no final de 1840, conheceu um comandante de navio dinamarquês chamado Conrad Erichsen. Casaram-se e foram morar na Europa. Na Alemanha, Emília visitou os jardins de infância e conheceu a metodologia Froebel, utilizada nessas escolas de educação infantil que estavam sendo implantadas na Europa. Ainda na Europa, teve duas filhas. Retornou ao Brasil em 1844 e teve mais cinco filhos. Era irmã de Balbina Henriqueta, esposa de José Antônio Pimenta Bueno, o marquês de São Vicente e braço direito de D. Pedro II.[3]

Em 11 de outubro de 1846, o brigue Æolus, de propriedade de seu marido, Conrad Erichsen, foi destruído por um ciclone em Havana.[8] Depois, sofrendo de depressão por ter perdido o navio e alguns amigos, Conrad Erichsen foi nomeado diretor responsável pelo planejamento da implantação da Colônia Assunguy, atual município de Cerro Azul, cargo que ocupou até o ano de 1862. Em 1856, a família mudou-se para Castro, onde, no ano seguinte, Emília prestou concurso para o ensino público. Atuou como professora da Província do Paraná até o ano de 1862, quando faleceu Conrad Erichsen. Nesse ano, Emília fundou o primeiro jardim de infância do Brasil, utilizando a metodologia Froebel, que havia conhecido na Europa.[3] Em 1880, o imperador D. Pedro II visitou esse jardim de infância, sendo recebido por Emília Erichsen, e escreveu sobre a visita em seu diário.[5] Como professora em Castro, Emília dava aulas de francês, inglês, artes e culinária para moças de famílias mais abastadas. Foi pioneira na utilização de salas mistas, isto é, moças e rapazes numa mesma sala de aula. Mudou-se para Palmeira em 1900, onde faleceu no dia 28 de setembro de 1907, aos 89 anos, faltando dois meses para completar noventa.[3]

Segundo Tizuko Morchida Kishimoto, o jardim de infância constituía uma escola infantil com fins educacionais fundada por Friedrich Wilhelm August Froebel, em 1840 na Alemanha, referindo-se ao jardineiro que trata da planta desde pequenina para ela crescer bem, porque os primeiros anos da criança são considerados necessários para o seu crescimento.[9]

Infância e educação

Praia de Piedade, Jaboatão dos GuararapesPernambucoBrasil, local de nascimento de Emília Brasiliana de Faria e Albuquerque.
Vista aérea de SantosSão Paulo, Brasil onde viveu Emília Brasiliana de Faria e Albuquerque em sua juventude.

Segundo a professora Aida Mansani Lavalle (1992, pp. 25–31), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Emília Erichsen se mudou com sua família para Santos, ainda jovem. Nessa cidade, seu pai, o Dr. José Manuel de Faria e Albuquerque, que era um cirurgião de elite brasileiro formado na Universidade de Coimbra, colaborou com sua educação para dar uma instrução cuidadosa e diversificada para sua filha que viria a ser a criadora da primeira pré-escola do país, diferente da que era reservada às meninas de seu tempo. O próprio pai de Emília cursou em instituições de ensino superior na Europa, em uma época de transformações sociais e políticas que vieram depois da Revolução Francesa.[3]

A professora Lavalle classifica ainda que a condição social dos familiares de Emília, em Santos, era excelente, porque no Brasil recém proclamado independente, uma pequena aristocracia de fazendeiros, doutores e bacharéis dominava as classes sociais mais pobres. Por esse motivo, os Faria e Albuquerque conviviam com a nobreza, com os políticos ilustres à época, com as famílias mais ricas e tiveram contato com o que existia de melhor com relação à formação cultural e educacional.[3]

De acordo com a mesma professora em seu livro Nos tempos da Província: Emília Ericksen e o ensino em Castro, publicado pela prefeitura de Castro, no Paraná, no ano de 1992, a futura criadora da primeira pré-escola do Brasil teve melhores chances de estudo que uma brasileira qualquer, de sua época, porque além de adquirir os conhecimentos básicos, estudava diversas línguas. Afirma-se que conhecia profundamente o inglês, o castelhano, o francês, o italiano e o alemão.[3]

Esse conhecimento de outros idiomas propiciou diversas oportunidades para Emília conviver com estrangeiros. Eram escassos no Brasil os bons livros em português, no que diz respeito ao âmbito científico. Estudou ciências como aluna de José Bonifácio de Andrada e Silva e dele ganhou seu livro de botânica, escrito em inglês, com a seguinte dedicatória: “À minha dileta aluna, Emília, a homenagem de José Bonifácio”.[10][3]

Vida pessoal, casamento, viagem à Europa, retorno ao Brasil, dificuldades financeiras e religião

De acordo com a professora Aida Mansani Lavalle (1992, cf. loc. cit.), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, em 1841, Emília de Faria e Albuquerque, e o dinamarquês Conrad Erichsen, comandante do navio Æolus, se casaram, vivendo algum tempo na Europa, onde o conhecimento seguro e profundo de diversos idiomas por parte da futura criadora da primeira pré-escola do Brasil, como já foi mencionado, permitiu que conhecesse o ambiente cultural, tão diverso daquele em que morou até certa época.[3]

Brigue, embarcação análoga ao Æolus, cujo comandante foi Conrad Erichsen, casado com Emília Brasiliana de Faria e Albuquerque.

Segundo duas professoras, Aida Mansani Lavalle (1992, cf. loc. cit.), e Luiza Pereira Dorfmund (1966, pp. 4–5), na Europa vieram ao mundo suas duas primogênitas,[3] Mariana e Nancy.[4] Provavelmente, foi sua curiosidade de mãe que a conduziu em busca do conhecimento das ideias do educador alemão Froebel, que debatia o sistema educativo infantil em vigor, sugerindo transformar as escolas numa espécie de jardim de infância.[3]

Emília e Conrad retornaram ao Brasil,[3] onde nasceram mais cinco filhos (Conrado, Haraldo, Balbina, Caetano e Emília). Moraram alguns anos em Santos,[1][5][4] quando passaram por séria provação financeira por causa da perda do navio Æolus, obrigando-o a buscar um novo modo de subsistência. A solução foi a busca de um cargo público.[3]

Segundo anotações de João Guimarães, em maio de 2018, e de Conrado Caetano Erichsen em suas “Confidências…”, Emília Erichsen era uma brasileira católica fervorosa e seu marido, Conrad Erichsen, um luterano da Dinamarca.[3][7][11]

Colônia Assunguy, transferência para Castro e trajetória educacional

Conforme a professora Aida Mansani Lavalle (1992, cf. loc. cit.), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, a Província do Paraná, instalada em 19 de dezembro de 1853,[12][13] dispunha de novos empreendimentos, no que se dizia respeito à época em que foram instalados núcleos de imigrantes estrangeiros em seu território. Um desses núcleos era a Colônia Assunguy, destinada a reunir uma comunidade formada por imigrantes irlandeses no Paraná.[3] Embora alguns escritos relatem que a família de Conrad Erichsen teria ido morar em Assunguy, esse fato é pouco provável porque a colônia foi inaugurada só em 1860. Além disso, nenhum documento relacionado à colônia traz o nome de Conrad Erichsen, mas sim, de outros diretores. Admite-se a possibilidade de que Conrad, sem fonte de remuneração no Brasil após a perda de seu navio por causa de um tufão, ocorrido em Havana, tenha sido contratado para ajudar no planejamento da vinda dos imigrantes, em função de seu relacionamento na Europa, inclusive na Alemanha, onde também residiu antes de mudar-se para Santos. Sabe-se do relacionamento de Emília Erichsen com José Antônio Pimenta Bueno e José Bonifácio de Andrade e Silva, que tinham estreita amizade com a Família Imperial Brasileira. Pimenta Bueno era cunhado de Conrad e, numa dificuldade financeira, muito bem poderia ter socorrido, de alguma forma, seus parentes. Há relatos de duas viagens de Conrad, que residia em Santos, ao Rio de Janeiro, sem especificar as razões.[14]

O certo é que Conrad Erichsen trouxe a família para morar na província mais nova do Império do Brasil.[3] Se de fato planejou a vinda dos colonos, acredita-se que tenha feito pelo menos uma viagem até Assunguy, que está cerca de 100 km de Castro. Ademais, a colônia recebeu imigrantes de várias nacionalidades ao longo de mais de uma década, a partir de 1860, e entrou em declínio por razões diversas.[15] E Conrad Erichsen faleceu já em 1862, quando os colonos começaram a chegar.[14]

Assunguy estava afastada dos centros consumidores, ligada por estradas mal conservadas, que não permitiam o trânsito além de cavalos e mulas. Segundo relatos de Reinaldo Benedito Nishikawa, em sua dissertação intitulada Terras e Imigrantes na Colônia Assunguy (Paraná, 1854–1874), as terras eram pouco férteis, dobradas e o governo não cumpriu com suas promessas feitas aos assentados de dar a devida assistência.[15] Colônias afastadas, sem estradas que conduzissem o que produziam para centros urbanos, ou que permitissem socorrer os colonos em suas necessidades, foram fracassando. Essas experiências acabaram com os sonhos de imigrantes que se estabeleceram em terras da Província do Paraná em busca da prosperidade.[3]

Vista panorâmica de Castro, cidade para onde a família de Emília Erichsen se transferiu em 1856.

A vila de Castro foi escolhida como novo domicílio da família de Conrad provavelmente por reunir algumas facilidades: estava localizada no caminho das tropas; era relativamente próxima à futura Colônia Assunguy; e ali residia um dos irmãos de Emília, Antônio José Xavier de Faria Albuquerque, fazendeiro de posses, que certamente lhe daria apoio no que necessitasse. Castro era uma povoação atrativa no interior paranaense, centro de economia tropeira, com um pequeno setor terciário.[3] Romário Martins menciona que em Castro, nos primórdios da Província do Paraná, em torno de 1853, possuía as seguintes características sociais e econômicas:[3][16]

Castro, com 16 quarteirões e 1088 fogos, com população de 5 899 habitantes, dos quais 3 618 homens e 2 006 mulheres, sendo solteiros 3 952 casados, 1 413 e viúvos 534. Brancos 3 618, mulatos e pardos 1 295, pretos 986, dos quais 796 escravos. Possuía 510 lavradores, 145 negociantes, 16 carpinteiros, 7 ourives, 7 sapateiros, 3 ferreiros, 2 alfaiates, 1 seleiro, etc. Numerosas fazendas de gado, abundante produção de milho, feijão, arroz, algodão, cana, café, frutas e legumes.

Nessa condição, a família Erichsen se instalou em Castro. Enquanto Conrad cuidava dos negócios da colônia de Assunguy, Emília que buscou no magistério um sustentáculo econômico aos seus familiares, superando assim os problemas iniciais.[3] Para isso ela prestou concurso público, iniciando sua trajetória profissional de professora, trazendo para Castro a educação individual, muito diferente da que tinham as professoras que exerciam atividades na Província do Paraná. Sua principal contribuição foi sua cultura diferenciada e o conhecimento das ideias froebelianas, porque não consta ter possuído educação pedagógica apropriada para a profissão como educadora. Carentes de pessoas formadas, as autoridades promoviam concursos para selecionar, entre os mais instruídos, aqueles que ensinariam as primeiras letras às crianças. Assim, Emília teve chance de repassar seus conhecimentos a todos os interessados, mesmo no conhecimento de línguas estrangeiras.[3]

Emília Erichsen e a metodologia Froebel

Ver artigos principais: Friedrich Fröbel e Jardim de infância
Jean-Jacques Rousseau (1712–1778).
Friedrich Fröbel (1782–1852).

Segundo Aida Mansani Lavalle (1992, cf. loc. cit.), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, o encontro com os conhecimentos do pedagogo alemão, de um modo geral, conduziu a todos aqueles que se envolveram ou se interessaram pela educação, em épocas diversas, a fazerem novamente uma pergunta que nasceu no século XVIII, em plena conjuntura cultural da França. Essencialmente, essa pergunta passou por questionamentos importantes: o que é a educação? Como e a quem se deve ensinar? Quem e o que se deve ensinar?[3]

Uma crítica da filosofia froebeliana nos remontam, por esse motivo, ao século XVIII, em que a educação formal foi sendo profundamente alterada. Uma orientação mais popular, menos aristocrática, foi introduzida pela filosofia dos pensadores do Iluminismo para a educação escolar. Fazendo uma crítica contra o regime absolutista e os direitos a ele reservados, alguns desses pensadores costumavam defender uma instrução universal para todos os cidadãos poderem aprender a ler, escrever e calcular.[3]

A educação constituiria, através desse ponto de vista, o maior recurso de difusão do regime democrático, uma maneira concreta de diminuir a complexidade elitista, que, na época, poderia difundir o conhecimento e unificar os povos.[3]

De todos esses pensadores do Iluminismo, foi Jean-Jacques Rousseau que, devido às suas opiniões políticas, influenciou a pedagogia, tanto dos que viviam em sua época, como daqueles que vieram depois. Debatendo a condição humana no que se refere à vida social, Rousseau não somente demonstrou que era necessário dar educação a todos os cidadãos, como atraiu a atenção para a criança, que em suas atividades costuma aparecer como ponto de convergência de todo o sistema educativo. A sociedade que quer formar excelentes cidadãos precisa direcionar seus esforços para a criança. Rousseau afirmava que a natureza deseja que as crianças sejam elas mesmas antes de virem a ser adultos. Se pretendermos atrapalhar esse equilíbrio, iremos produzir frutos prematuros, que não amadurecerão, terão gosto amargo e vão apodrecer rapidamente.[3]

Entretanto, não somente o Iluminismo define as normas educacionais europeias, em pleno século XIX. Grandes mudanças sociais e econômicas, deram origem a oportunidades e mazelas para o sistema educativo então estruturado.[3]

O progresso do capitalismo traz a mais importante das transformações, na mesma proporção em que a Revolução Industrial transpôs os limites da Inglaterra e trouxe consigo, além de um desenvolvimento científico, um fluxo crescente de urbanização e um crescimento de poder para a burguesia. A concentração urbana, que se fez devido ao êxodo rural, trouxe para o proletariado até então organizado, uma diminuição da qualidade de vida. Grandes concentrações, piores salários, falta de leis trabalhistas garantindo os direitos dos servidores, o trabalho dos menores e das mulheres subordinadas a um abuso excessivo, isso costuma ser a realidade de vários países.[3]

Um contexto social tão difícil não coexistiu no nível filosófico, político ou ideológico, somente com o legado do Iluminismo. O século XIX foi marcado por filósofos, poucos de importante prestígio como HegelMarx e Auguste Comte, e os educadores que vivenciaram esse contexto refletiram, em suas ideias, uma ou outra dessas diretrizes.[3] Entre aqueles que buscaram modernizar o processo educacional, na época mencionada, procurando melhor explorar as capacidades da criança e, simultaneamente, ajustá-la à escola, merece destaque Friedrich Froebel, que foi consequência do sistema educacional da Alemanha.[3]

Para melhor compreender os métodos que Froebel elaborou para a educação, dirigidos mormente à idade entre três e os sete anos, é necessário saber um pouco de sua vida.[3] Quando criança, enfrentou dificuldades e traumas. Tendo perdido a mãe antes de atingir um ano de vida, educado pela madrasta que o agredia, tornou-se tímido e antipático, buscando na natureza um retiro e alívio para seus conflitos emocionais.[3] Sua vivência na escola não foi suficiente para lhe proporcionar uma educação regular. Talvez por esse motivo se dedicou à educação, analisou a filosofia de Rousseau e Pestalozzi e desde então fez reformas educativas próprias. Para diversos analistas de sua obra, Froebel é conhecido como “um Rousseau teutônico”.[3]

Carreira profissional

Casa da Cultura Emília Erichsen, Castro, Paraná, Brasil, local onde foi fundado o primeiro jardim de infância do país, em 1862.

De acordo com Aida Mansani Lavalle (1992, cf. loc. cit.), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, a carreira de educadora de Emília Erichsen começa pouco tempo após sua chegada a Castro. Através da portaria publicada em 26 de setembro de 1857, a Província criou uma cadeira de segunda ordem para o sexo feminino, na cidade de Castro e, dois dias após, foi aberto um concurso para preenchimento do cargo de professor para essa cadeira. A pedido de Emília, que alegava não poder viajar, a seleção foi feita na própria cidade.[3]

A avaliação dos candidatos foi feita por uma comissão constituída por Joaquim Ignácio Silveira da Motta, o padre Damaso José Correia e o Dr. Felipe Correia Pacheco,[3] dando ganho à Emília, que já tinha criado instituição privada de ensino, inicialmente reservada para o ensino de língua francesa, sendo suas primeiras discentes poucas jovens castrenses.[3]

O período que lecionou para o ensino público patrocinado pela província foi curto para Emília, uma vez que a cadeira foi extinta em 1862. Sem o emprego público, sem o marido que falecera em março daquele ano, caberia a Emília a missão de sustentar sua família. A experiência e o conhecimento a levou a continuar com sua escola privada, que também funcionava como internato, e a fundar o primeiro jardim de infância do Brasil em 1862, adotando a filosofia pregada por Froebel.[3]

Em sua instituição, de acordo com o que foi mencionado em seus relatos,[17] Emília Erichsen resolveu abolir a palmatória e decidiu adotar um sistema educacional que se opunha com o que se utilizava nas escolas públicas. Liberal ao extremo, punha um ao lado do outro os filhos dos proprietários rurais, que formavam a elite, com os jovens pobres e até filhos de escravos.[3] O método de ensino também era diferente do recomendado pelas instituições políticas, e mostrava a enorme influência que recebeu de Froebel. Falta de rotina, incentivo à criatividade, cada discente preenchendo sua lacuna com desempenho próprio e incentivados pelo professor.[3]

Vários alunos que frequentaram a escola de Emília Erichsen, posteriormente se destacaram como políticos, o que contribuiu para divulgar seu trabalho inovador no magistério.[3]

Uma filha sua[18] buscou relacionar essa sua influência com importantes projetos associados à educação, a nível nacional e estadual, porque conviveu e trocou ideias com homens públicos e eruditos como o Conselheiro Laurindo, o Dr. Francisco Xavier da SilvaJosé Francisco da Rocha e Doutor Vicente Machado, sendo que este último, no ano de 1904, no comando do governo estadual, criou a primeira pré-escola pública baseada nos métodos froebelianos, no Paraná. No ano de 1911, quando Emília Erichsen já tinha morrido, Xavier da Silva deu o nome da educadora ao jardim de infância, servindo de exemplo para o ensino fundamental no Paraná.[3]




Aida Mansani Lavalle (1992, cf. loc. cit.), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, faz referência a certa restrição à liderança da família Erichsen, uma vez que o chefe da família era adepto do protestantismo. Em uma cidade onde a Igreja exercia enorme poder, o não seguidor do catolicismo romano sofria as consequências dessa diferença religiosa. Entretanto, pelo cargo de professora, por ser muito respeitada pela comunidade, Emília conseguiu resolver parcialmente esse problema. Após o falecimento de Conrad dá-se a "conversão" dos filhos ao catolicismo. A título de informação, transcreve-se a certidão de óbito de Conrad Erichsen, firmado pelo padre Damaso Correa, que consta o seguinte:[3]

Aos treze de março de mil oitocentos e sessenta e dois, nesta cidade de Castro, faleceu repentinamente de apoplexia, Conrado Erichsen, protestante, natural do reino da Dinamarca, casado com Emília de Faria Erichsen, residente nesta paróquia. Tinha de idade sessenta e dois anos mais ou menos e observou-se o que em tais circunstâncias prescreve o ritual romano. Seu cadáver jaz em um carneiro levantado no cemitério desta mesma cidade.

A família Erichsen se apresentou imediatamente à Igreja, depois da morte de Conrad. Dessa forma é que menos de trinta dias, o padre Damaso registra a seguinte informação:[3]

Aos oito de abril de 1862, na matriz desta cidade de Castro, o reverendo Frei Matias de Gênova, com licença minha, batizou = sub conditione = por duvidar-se da validade do primeiro batismo, feito em Copenhague aos sete de agosto de 1842, e pôs os Santos Óleos à Mariana... filha legítima de Conrado... de dona Emília de Faria Erichsen... brancos: a dita Mariana declarou mui formalmente, que conquanto fosse batizada conforme o rito protestante, porque seu pai era protestante, de comunhão luterana; todavia constantemente renunciou os erros de semelhante religião e abraçou os verdadeiros princípios da Religião Católica, Apostólica Romana, única que conhecia como verdadeira, sem a qual não há salvação, seguindo assim a educação de sua mãe, que nasceu na dita Religião Católica, cujos dogmas e doutrinas sempre seguiu e respeitou: foram padrinhos o Capitão Antonio José Xavier de Faria e Albuquerque, casado, e Maria de Jesus Marcondes...

A família continuou morando em Castro e já em 1870, além do trabalho feito por Emília, seu filho Dr. Conrado Caetano Erichsen foi promotor público. Quando esses dois filhos moraram em Castro, tiveram participação ativa na política municipal, como vereadores.[3]

Em torno de 1900, já bastante idosa, Emília Erichsen mudou-se para uma casa em Palmeira, onde passou a morar com alguns de seus descendentes que aí residiam antes dela. Morreu nessa cidade no ano de 1907, em 28 de setembro, segundo a certidão de óbito:[3]

Registro 301, de 29 de setembro de 1907, que registrou a morte em 28 de outubro, às 10 e meia da noite, de Emília Faria Erichsen, na residência do Dr. Conrado Caetano Erichsen, em consequência de altério esclerosi (sic) com 90 anos de idade, viúva, brasileira, natural de Pernambuco, residindo há muitos anos na cidade.

Referências

  1. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k Lössnitz, Gisleine; Nascimento, Maria Isabel Moura (2006). «O primeiro jardim de infância do Brasil: Emília Erichsen» (PDF). Universidade Estadual de Ponta Grossa. Consultado em 24 de agosto de 2020Cópia arquivada (PDF) em 11 de fevereiro de 2019
  2. ↑ Ir para:a b Setti 2020, p. 12.
  3. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai aj ak al am an ao ap aq ar as at au av awax ay az ba bb Lavalle 1992, pp. 25–31.
  4. ↑ Ir para:a b c d e f g h i Dorfmund 1966, p. 1.
  5. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j Cardoso Filho, Ronie (2009). «São José, o Colégio de Castro: 1904-1994» (PDF). Universidade Federal do Paraná. Consultado em 21 de agosto de 2020Cópia arquivada (PDF) em 16 de agosto de 2010
  6.  Mendes, Carlos Pimentel (15 de novembro de 2005). «Mapas de Santos: Plantas da Villa de Santos: 1822». Novo Milênio. Consultado em 21 de agosto de 2020Cópia arquivada em 26 de abril de 2019
  7. ↑ Ir para:a b Confidências…”, carta escrita por Conrado Caetano Erichsen, no final do século XIX.
  8.  «Shipping Intelligence». Caledonian Mercury (19623). Edimburgo. 12 de novembro de 1846
  9.  Campos, Rafaely Karolynne do Nascimento; Pereira, Ana Lúcia da Silva (2015). «Primeiras iniciativas de educação da infância brasileira: uma abordagem histórica (1870–1940)» (PDF). Instituto Federal de Sergipe. Consultado em 21 de agosto de 2020Cópia arquivada (PDF) em 5 de novembro de 2020
  10.  Dorfmund 1966, p. 2.
  11.  Notas de Emília Erichsen, documento escrito em maio de 2018, por um bancário residente nos Estados Unidos, chamado de João Guimarães, com erros ortográficos devido à digitação no teclado inglês, muito utilizado em países anglófonos.
  12.  Wachowicz 1995, pp. 115–117.
  13.  Garschagen 1998, pp. 137–138.
  14. ↑ Ir para:a b Colatusso, Denise Eurich (2004). «Imigrantes alemães na hierarquia de status da sociedade luso-brasileira (1869-1889)» (PDF). Universidade Federal do Paraná. Consultado em 26 de outubro de 2020Cópia arquivada (PDF) em 5 de novembro de 2020
  15. ↑ Ir para:a b Nishikawa, Reinaldo Benedito (2007). Terras e imigrantes na colônia Assunguy Paraná, 1854–1874 (Dissertação). São Paulo: Universidade de São Paulo. Consultado em 5 de setembro de 2020Cópia arquivada em 18 de junho de 2020
  16.  Martins 1969, p. 329.
  17.  Dorfmund 1966, p. 6.
  18.  Dorfmund 1966, p. 8.
  19.  Bach 2010, p. 448.
aaa



Emília Brasiliana de Faria e Albuquerque[1][2]
Conhecido(a) porFundar o primeiro jardim de infância do Brasil[3]
Nascimento17 de novembro de 1817[1][4][5]
Engenho da PiedadeRecifePernambucoBrasil[1][4][5]
Morte28 de setembro de 1907 (89 anos)[3]
PalmeiraParanáBrasil[3]
Nacionalidadebrasileira[1][3][4][5]
Etniacaucasiana
ProgenitoresMãe: Marianna Carolina de Faria e Albuquerque[1][5]
Pai: José Manuel de Faria Albuquerque[1][3][5]
Ocupaçãoprofessora e educadora

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Não ser somente uma fotografia numa prateleira

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