| Edifício e estrutura Edifício Militar Forte | Descrição | Fortificação abaluartada de planta quadrangular, composta por dois baluartes virados a terra (NO. e NE.) e por dois meios baluartes virados para o mar (SO. e SE.), com três dos ângulos flanqueados iguais, mas formando flancos e cortinas muito curtos. A frente voltada ao mar é a mais irregular devido ao facto de integrar uma praça com bateria baixa e uma bateria alta com acesso ao aquartelamento. O recinto magistral, circundado por cordão, apresenta paramentos em talude, em cantaria aparente apenas nas faces voltadas ao mar e nos cunhais, sendo os restantes panos rebocados, tal como os parapeitos que incluem actualmente apenas três canhoneiras; integra oito guaritas cilíndricas (revestidas por cimento) com cobertura em cúpula e rematadas com um pináculo, quatro inseridas no recinto magistral e quatro nos ângulos da contra-escarpa do fosso; apenas uma das guaritas (SE.), de construção contemporânea, apresenta forma octogonal. O fosso é seco (à excepção do lado costeiro) e inclui contra-escarpa com estrada coberta e correspondente banqueta; o fosso comunica com o mar no lado SO., enquanto no lado SE. é cortado pela entrada do forte, constituindo a zona mais irregular que foi objecto de alteração da estrutura quinhentista inicial. O acesso efectua-se a partir do fosso, através de ponte (antes levadiça e junto à zona ocupada com corpo da garagem e anexo), incluindo trânsito com corpo da guarda, isto é, um túnel que dá acesso à praça e bateria baixa, integrando ainda um lanço de escadas para subir à bateria alta (erguida sobre o corpo da guarda) e ao quartel. A praça baixa incorpora o parapeito da bateria, o acesso à cisterna de água nativa, a quatro compartimentos correspondentes à Casa do Governador, assim como aos armazéns, marcados por duas arcadas sob o meio baluarte SO., actualmente fechadas mas integrando portas de lintel recto encimadas por duas janelas. O aquartelamento superior apresenta planta rectangular desenvolvendo três pisos, sendo dividido em duas alas também rectangulares, comunicando entre si através de uma corredor com pé-direito total marcado por arco de volta inteira em cantaria e coberto com abóbada de berço, ao fundo do qual se encontra a capela. Cada um dos blocos inclui quatro portas de acesso aos dois primeiros pisos, integrando compartimentos que serviam de quartel para os soldados e de armazéns de artilharia; a partir do espaço aberto entre os baluartes e o quartel efectua-se a entrada para o terceiro piso, de pé direito menor e com cobertura plana. A capela dedicada a três padroeiros (Santo António do Estoril, Santa Bárbara e Nossa Senhora do Socorro), de pequena dimensão, tem planta rectangular e apresenta portal de lintel recto em mármore encimado por pequeno nicho caiado com imagem de Santo António; interior coberto com abóbada de berço rebocada, apresentando estrutura do retábulo-mor em mármore, com arco de volta inteira enquadrado por pilastras molduradas e encimado por frontão triangular com base ornamentada alternadamente por medalhões ovais e losangos; interior com abóbada de berço e mesa de altar também paralelepipédico, em mármore e com frontal decorado por losangos. O conjunto dos espaços integra em várias zonas azulejos policromos do Estado Novo, em silhares e painéis representando momentos heróicos da História de Portugal. | Acessos | São João do Estoril; Avenida Marginal | Protecção | Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 | Enquadramento | Urbano, marítimo. Enquadrado no núcleo urbano de São João do Estoril, situa-se entre a zona costeira rochosa e a zona arborizada da Avenida Marginal. Parte integrante da Área Metropolitana de Lisboa, o forte localiza-se na entrada da barra do Tejo, na margem direita da sua foz, aproximadamente à cota altimétrica de 25 m, marcando o início da baía de Cascais. A O. encontra-se o núcleo urbano do Estoril, marcado ainda por duas fortificações costeiras. Constitui o principal ponto de defesa entre o Forte de Nossa Senhora da Luz de Cascais (v. IPA.00006052) e o Forte de São Julião da Barra em Oeiras (v. IPA.00002343). | Descrição Complementar | | Utilização Inicial | Militar: forte | Utilização Actual | Assistencial: colónia de férias | Propriedade | Pública: estatal | Afectação | Ministério da Defesa Nacional - Exército | Época Construção | Séc. 16 / 17 | Arquitecto / Construtor / Autor | ENGENHEIROS MILITARES: Alexandre Massai (1617); Leonardo Turriano (1600); Mateus de Couto (1693); Maximiano José da Serra (1796); Vicenzo Casale (1589). | Cronologia | 1580, agosto - desembarque em Cascais das tropas comandadas pelo Duque de Alba, cuja celeridade da marcha em direcção a Lisboa demonstrou a fragilidade da linha defensiva da barra do Tejo; 1589, 23 dezembro - carta do engenheiro Giovanni Vicenzo Casale e do capitão Fernando da Costa, dirigida ao rei Filipe I de Portugal, afirmando que já estava escolhido o local para a construção de um forte, apresentando os planos da edificação e justificando que um pequeno forte seria suficiente, dado que se estava a fortificar a Cabeça Seca; a proposta (não construída) referia-se a um torreão de 100 pés, de forma quadrangular, utilizando taipa como principal material construtivo, revestindo-o de madeira de forma a sustentar o terrapleno e, para protecção das águas do mar, uma fina camada de alvenaria ou de tijolo; o forte deveria ser reforçado com uma linha de mosquetaria, na qual se disporiam quatro peças de artilharia, que bateriam fogo sobre as enseadas limítrofes (Massai, 1621, fol. 96); 1590, 10 fevereiro - carta régia autorizando a construção do forte; todavia, nesse mesmo ano e antes de receber tal autorização, Casale apresentou ao rei nova proposta com a ampliação da forte enviando-lhe dois desenhos, um referente à implantação na costa e outro com planos para um forte de traçado quadrangular com quatro baluartes regulares, incluindo fosso, bateria baixa e ao centro quartéis para soldados (Massai, 1621, fol. 97), correspondendo no essencial à estrutura que foi construída; nesse mesmo ano, Frei Vicenzo Casale tinha também a seu cargo a ampliação da Torre de São Vicente ou de Belém (v. IPA.00004065) e a construção da Torre de São Lourenço ou Torre do Bugio (v. IPA.00006548); 1591, 16 fevereiro - Casale informava o monarca que o forte estava apto a receber "gente e artilharia", uma vez que as obras que faltavam eram somente na zona exterior da fortificação; 1600 - relatório de Leonardo Turriano assinala ser indispensável a reparação dos parapeitos, propondo ainda a construção de uma praça alta sobre os quartéis para aumentar o poder de fogo, alterações essas efectuadas em data indeterminada; 1617 - desenho de Alexandre Massai, assinalando que "no fabricar delle se mudou alguas cousas" (Massai, 1621, fol. 88), talvez reflectindo as alterações propostas por Turriano e que identificam em levantamentos posteriores; 1642, 6 fevereiro - relatório de D. António Luís de Meneses, responsável pelo aparelho defensivo da Barra do Tejo, refere o mau estado de conservação do forte (DGARQ/TT, CG, Consultas, m. 2, n.º 5); 1644, 12 Agosto - a ponte levadiça e a cancela encontravam-se em ruína, apesar do forte se encontrar artilhado (DGARQ/TT, CG, Consultas, cx. 11, m. 4, n.º 317); 1681- a guarnição do forte ainda se encontrava activa (Ramalho, Boiça e Barros, 2001, p. 128); 1693 - levantamento da planta do forte por Mateus do Couto (DGARQ/TT); 1720, 29 Junho - relatório do coronel João Xavier Teles refere obras de reparação nas casas, quartéis e armazéns, encontrando-se a fortificação em bom estado (Biblioteca Pública de Évora, Cx. 2-15, n.º 1); 1735, 31 março - o forte encontrava-se já em estado de degradação, sendo necessário efectuar obras nas baterias e nas casas do governador, do tenente e do capelão (Relação das Fortalezas e Fortes de toda a Marinha da Estremadura, BNP, Cod. 421); 1735, cerca - entaipamento da arcaria da praça de armas; 1762 / 1763 - campanha de obras na maior parte dos fortes da Barra de Cascais, onde se terá incluído este mesmo forte, devido a medidas de prevenção no contexto da Guerra dos Sete Anos; 1777 - o forte encontrava-se em razoáveis condições, mas a casa do corpo da guarda estava destelhada, os quartéis com soalhos em mau estado e faltava uma porta no paiol da bateria baixa; 1796 - planta atribuível Maximiano José da Serra (BPMP, GEAEM/DIE), referindo as obras executadas pelo capitão José Francisco António Dias e existência de peças de artilharia; 1831, 11 Julho - forçamento da barra do Tejo pela esquadra francesa comandada pelo almirante Roussin, quando o forte não tinha qualquer peça de artilharia, uma vez que se encontrava em obras; 1831 /1832 - no contexto das Lutas Liberais o forte sofreu intervenções nos alojamentos (rebocos, portas, soalhos), no paiol da pólvora (telhado e interior), muralhas e parapeito da estrada coberta junto à contra-escarpa do fosso; recolocação das Reais Armas Portuguesas sobre a porta do forte, restituição de guarnição e artilharia; 1832 - o forte tinha ao serviço um governador, dois subalternos de artilharia, um cabo e seis soldados de milícias e seis peças de artilharia; 1886 - relatório de inspecção registou o mau estado de conservação pelo facto do forte estar inactivo, encontrando-se somente as muralhas em bom estado; 1889 - instalação de um Posto da Guarda Fiscal para evitar o contrabando de mercadorias, que pouco tempo depois foi transferido provisoriamente para um edifício próximo; séc. 19, fins / séc. 20, inícios - campanha de obras de adaptação a novas funções; embora estivesse na lista de Praças de Guerra Desclassificadas da 1ª Divisão continuou a manter o destacamento de um governador; 1915 - morte do coronel José Ribeiro Júnior, último oficial com o cargo de Governador do Forte de Santo António da Barra, passando então a funcionar como colónia de férias do Instituto Feminino de Educação e Trabalho de Odivelas; 1962 - funcionamento como colónia de férias do Instituto de Odivelas; 1968, 08 agosto - adaptação do forte para residência sazonal do Presidente do Conselho António Oliveira Salazar, local onde sofreu uma queda de cadeira que levou à sua morte pouco tempo depois; 2018, 17 abril - é publicada a Resolução da Assembleia da República n.º 113/2018 (DR n.º 75/2018, 1.ª série), que recomenda ao Governo que assegure com urgência a proteção e recuperação do Forte de Santo António da Barra. | Dados Técnicos | Estrutura de paredes portantes. | Materiais | Calcário, alvenaria de pedra, cimento, ferro, madeira, telha, azulejo. | Bibliografia | BOIÇA, Joaquim Manuel Ferreira - A Barra do Tejo. O eixo São Julião-Bugio. Navegabilidade, Defesa e Alumiamento. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 2000; CARDOSO, Luís - Diccionario Geografico... Lisboa: Regia Officina Sylviana, 1747, tomo I; GODINHO, Helena Campos, MACEDO, Silvana Costa, PEREIRA, Teresa Marçal - "Levantamento do Património do Concelho de Cascais. 1975 - Herança do Património Arquitectónico Europeu", in Arquivo de Cascais, 1990, nº 9; GÓIS, Damião de, trad. Aires A. Nascimento - Elogio da cidade de Lisboa. Lisboa: Guimarães Editores, 2002; GUEDES, Lívio da Costa - Aspectos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII: a descripção de Alexandre Massaii (1621). Lisboa: Arquivo Histórico Militar, 1989; LOURENÇO, Manuel Acácio Pereira - As fortalezas da costa marítima de Cascais. Cascais: Câmara Municipal, 1964; Ministério das Obras Públicas - Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1954. Lisboa: 1955; MOREIRA, Rafael - "A arquitectura militar do Renascimento em Portugal", in A Introdução da Arte da Renascença na Península Ibérica. Coimbra: Epartur - Instituto de História da Arte da Universidade de Coimbra, 1981, pp. 281-305; MOREIRA, Rafael - "Do Rigor Teórico à Urgência Prática: a Arquitectura Militar", in História da Arte em Portugal. Lisboa: Publicações Alfa, 1986, vol 8; RAMALHO, Margarida de Magalhães; BOIÇA, Joaquim Manuel Ferreira; BARROS, Maria de Fátima Rombouts de - As fortificações marítimas da costa de Cascais. Lisboa: Quetzal - Câmara Municipal de Cascais, 2001. | Documentação Gráfica | IHRU/SIPA, DGEMN:DRMLisboa, Doc. 37738, DGEMN: DSID-001/011-1209; BPMP: planta do Forte de Santa António da Barra, Maximiano José da Serra,1796 (Plantas dos fortes e fortalezas da costa do norte do Reino de Portugal, Cod. 49, cópia GEAEM/DIE 8100-3-43); DGARQ/TT: Casa Cadaval, livro 29, fl. 81, planta do forte de Santo António, Mateus do Couto, 1693; CML, Museu da Cidade: projecto da Fortaleza de Santo António da Barra, Vicenzo Casale, 1590 (Alexandre Massai, Descripção do Reino de Portugal, 1621). | Documentação Fotográfica | IHRU/SIPA; DGEMN / DSID e DSARH | Documentação Administrativa | IHRU/SIPA; DGEMN / DSID e DSARH; Arquivo Geral da Marinha: Mapa da Fortaleza de Santo António da Barra, 1779 (1-10-4, Cx. 307); Biblioteca Pública de Évora: Relatório do Coronel João Xavier Teles, Conde de Unhão, 29 Junho 1720 (Cx. 2-15, nº 1); BNP: Relação das Fortalezas e Fortes de toda a Marinha da Estremadura, 31 Março 1735 (Cod. 421); CML, Museu da Cidade: Alexandre Massai, Descripção do Reino de Portugal, 1621, fol.s 96-97 ; DGARQ/TT: Relatório, 12 Agosto 1644 (CG, Consultas cx. 11, m. 4, n.º 317), Carta de D. António Luís de Meneses, 6 Fevereiro 1642 (CG, Consultas, m. 2, doc. 5); Mapa de guarnição, 16 Abril 1762 (Ministério do Reino, m. 620); GEAEM / DIE: Relatório do Brigadeiro José G. F. Passos e do Capitão Engenheiro Joaquim A. E. Vaz, 26 Março 1854 (3130-6-83-118). | Intervenção Realizada | DGEMN: 1954 - construção de uma garagem na residência de verão do Presidente do Conselho; trabalhos de acesso à garagem; regularização dos terrenos; 1960 - colocação de instalação eléctrica. | Observações | O Forte de Santo António da Barra não deve ser confundido com o desaparecido Forte de Santo António do Estoril que se localizava na praia do Tamariz (v. Plantas dos fortes e fortalezas da costa do norte do Reino de Portugal, 1796, BPMP, Cod. 49, cópia GEAEM/DIE 8100-3-43). Descrição do Forte de Santo António em 1854: "Este Forte é um quadrado fortificado por meio do sistema abaluartado com flancos e cortinas muito curtos e perfeitamente regular nos lados Leste, Norte e Oeste sendo por estes lados circundando de um fosso e de uma entrada coberta e competente esplanada. Os seus parapeitos de 8,5 palmos de grossura pouco mais ou menos são de alvenaria com canhoneiras podendo nos lados de Leste e Oeste 4 bocas-de-fogo. Na frente Leste próximo da face do Baluarte existe um paiol e casa para balame, cobertos por telhado, que, necessitam de alguns consertos. A frente do Sul é irregular constando de duas baterias, superior e inferior, a primeira fornada de um parapeito a barbete de 4,5 palmos de altura e 5 de espessura. Pode conter 3 bocas-de-fogo e a segunda feita do mesmo modo e aproximadamente de iguais dimensões, pode assestar 8, sendo colocadas 2 no estreito do plano do fosso com frente a Oeste e 1 na outra extremidade fronteira a Leste. No centro da fortificação se eleva um terraço fechado de abobada de 87 palmos de comprimento por 72 de largura para o qual assim como para a bateria superior dá acesso uma escada de bastante declive e estreitos degraus o que torna muito dificultoso o transporte de Artilharia para aqueles pontos. E por baixo deste terraço existe o espaçoso quartel do Governador, casa de palamenta, bons armazéns, arrecadações e outros alojamentos que podem alguns deles servir de paiões quando as circunstâncias o exigirem por serem à prova e secos, ficando os quartéis de guarnição por baixo da bateria superior nos quais e em alguns dos alojamentos referidos podem acomodar de 80 a 100 praças. Existe no plano da bateria baixa uma boa cisterna talhada em rocha com água nativa e no mesmo plano uma casa de trânsito fechada de abobada, para serventia do Forte, onde há comodo para alojar a guarda da porta, e junto à qual mostra ter havido ponte levadiça. Diversos lugares da fortificação carecem de alguns reparos, principalmente a muralha para o lado do mar, o quartel do Governador, quarteis de guarnição e paiol. A sua elevação sobre o nível do mar é de 63 palmos proximadamente. Ignora-se a época em que foi construído, depreendendo-se, porém, pela sua configuração e informações obtidas, que já existia no Reinado dos três Filipes de Castela." Relatório do brigadeiro José G. F. Passos e do capitão engenheiro Joaquim A. E. Vaz, 26 Março 1854 (GEAEM/DIE,3130-6-83-118). | Autor e Data | Maria Pinheiro-Chagas 2012 | Actualização | | http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6072
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